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terça-feira, 13 de julho de 2010

A Justiça e a Razão

“ A Justiça e a Razão” por Pedro Peinado Torres, Correio do Minho, 12/07/2010


Certo dia, (quis o destino) a razão cruzou-se com a justiça, no tribunal. Era mais um daqueles dias, em que a razão, de um lado, e, a justiça do outro, se opunham, para ver quem levava a melhor sobre a outra.
A dada altura, a razão, com um tom mais exaltado, ataca, verbalmente, o outro réu:
Razão: "Ó justiça! Tu que tens a mania que és uma virtude moral que inspira o respeito pelos direitos de cada pessoa, diz-me, será que és justa, ou apenas tens razão?"
Justiça:" Eu? Razão? Eu aplico as leis, atribuo as sanções e tenho uma maior importância do que tu, que tentas transmitir uma falsa imagem de bom senso!"
O ambiente tornara-se, naquele momento, tenso e quente, visto que ambos os réus, com o apoio dos seus representantes, tentavam demonstrar o seu valor, tendo-se verificado em alguns períodos, diversos comentários susceptíveis de sanções disciplinares.
Razão: " A justiça enganou-se, porque, na verdade, eu tenho mais importância, pois, enquanto eu actuo em todo o mundo, a "justitìa", neste caso, procede individualmente, e, de forma diferente, de país para país!"
Justiça:"Ora, a razão, por vezes é egoísta, porque não vê a satisfação da colectividade!"
Razão:" Isso não é verdade! Segundo Hegel, um filósofo alemão, a razão rege o mundo!"
O juiz, caracterizado por uma face comprometida (com outrem), um aspecto frio e seco, lançara outro assunto, para que os ânimos se apaziguassem e que a decisão do caso fosse breve.
Juiz:" Caros réus, em relação a Portugal..."
A Justiça interrompe o discurso do meritíssimo, de forma espontânea, para desviar o assunto relatado pelo juiz.
Justiça:" Sr. Juiz, a Razão em Portugal, ainda é analfabeta nesta matéria!"
Razão:"A justiça é que ultrapassa todas as razões e, muitas vezes, tenta-nos corromper, silenciosamente, para atingir os seus objectivos!"
Justiça:" É mentira!"
Razão: "É verdade, pois eu sou julgada injustamente, diversas vezes, vou para a cadeia sem ter feito mal a ninguém e a nossa rica justiça governa este "país das maravilhas"!"
Passado alguns minutos, a justiça, que já tremia por todos os lados, encheu o seu peito de coragem para enfrentar a razão e disse: "A razão não tem razão e a justiça não faz justiça, pois somos complementares. Não há justiça sem razão e razão que não tenha justiça!"
A razão, percebendo, naquele instante, uma certa humildade por parte da justiça, decidiu intervir, para a resolução do caso.
Razão:" É verdade, a razão faz a justiça e a justiça provém da razão! Neste caso, por mais que queiramos defender os nossos interesses, não conseguimos fazer a nossa justiça, porque nenhuma de nós tem razão!"
O Sr. Juiz, completamente, baralhado, como se podia verificar através do suor da sua batina, decidiu, após a leitura de um comunicado de ambos os réus, adiar o caso, para uma nova sessão, com data não especificada.
O que é certo é que este caso, como muitos outros, ainda hoje não teve um final definido, sendo que o seu prazo acabou por prescrever.
A Justiça e a Razão, certamente têm caminhos diferentes. Mas, na vida real, auxiliámo-nos nestas, para resolver os nossos problemas, e, uma coisa é certa, quer a justiça corrompa a razão e a razão utilize, algumas vezes, o seu falso bom senso para atingir a justiça, o povo tem sempre de recorrer às suas economias para as enfrentar, o povo é que, realmente, é julgado, o povo é que perde ou ganha a razão, o povo é que faz ou desfaz a justiça, o povo...O povo!

Pedro Peinado Torres